Mais da metade da safra 2013/14 de soja, em Mato Grosso, teve seus principais insumos adquiridos antes da arrancada da cotação do dólar frente ao real, iniciada em maio. Cerca de 60% do básico para o plantio – que começa a partir da segunda quinzena de setembro - como sementes, fertilizantes e defensivos, foram comprados e com isso, o produtor assegurou um custo de produção menos ‘salgado’ se comparado ao adicional que o dólar, moeda que baliza o mercado de commodities, vai impor daqui para frente.

Conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), por meio do Boletim da Soja, o dólar em maio apresentou um aumento de 6,27%, fechando o mês cotado a R$ 2,131. “Os produtores em Mato Grosso estão com mais de 60% dos insumos comprados para a safra 2013/14, sendo 40% com pagamento à vista e 20% em sistema de troca. Desta forma, faltam ser comercializados cerca de 40% dos insumos, que podem sofrer influência do aumento do dólar, juntamente com as trocas que foram feitas sem fixação de dólar. Isso pode aumentar o custo total de produção, que em média em Mato Grosso é de R$ 45/saca para o novo ciclo”, apontam os analistas.

O custo médio de produção por saca em R$ 45, considera uma produtividade média de 51 sacas sobre um custo por hectare de cerca de R$ 2,29 mil. Essa estimativa de custo elaborada pelo próprio Imea deverá ser revisada, pois tem como base o mês de março, quando o câmbio médio foi de R$ 1,98. Caso a produção não atinja a média de 51 sacas, se ficar menor, o custo aumenta. Se superar, o custo dilui.

Como o Diário antecipou a análise do momento, na edição do último domingo, a movimentação do câmbio chega como uma faca de dois gumes, afinal, pode influenciar positivamente sobre a soja que resta a ser comercializada, e, como também de forma negativa ao encarecer os custo de produção do novo ciclo para àqueles que ainda não fecharam as compras dos insumos. O dólar, além de elemento surpresa dentro do contexto local de planejamento de safra, segue como incógnita, pois especialistas esperam que a cotação atinja R$ 2,20 ainda neste mês e no fundo, ninguém sabe até onde a valorização frente ao real pode chegar e como isso impactará a produção da nova safra.

Como pontuam os analistas da Cadeia de Grãos do Imea, para os produtores, a alta do dólar pode ser positiva ou não, dependendo da sua situação de compra de insumos. “A elevação do dólar tem influência direta em tudo o que é importado, aumentando o seu valor, visto que precisa de mais reais para comprar o mesmo produto, deixando-o mais caro para o consumidor final. Por outro lado, o aumento do dólar tem influência direta no preço da soja, melhorando a sua cotação”. Como reforçam, os produtores que já compraram os insumos para a próxima safra à vista, ou mesmo fizeram o sistema de troca de soja por insumos, com o dólar fixado, deverão sentir apenas o reflexo bom do aumento do dólar, com a elevação do preço da oleaginosa, que já vem ocorrendo no mercado interno.

CONTEXTO - O mercado da soja está mais volátil e nervoso do que o habitual para o período e isso está favorecendo as cotações, juntamente com a alta do câmbio. Por mais uma semana o atraso na semeadura dos Estados Unidos, segue em atraso - 17 pontos percentuais (p.p.) sobre igual período do ano passado - e agora com a novidade da germinação também atrasada, com 18 p.p. As demoras aliadas à falta de grãos disponíveis tem movimentado positivamente a Bolsa de Chicago, referência internacional para a commodity, e pode dar um final diferente às toneladas de soja que ainda restam a comercializar em Mato Grosso.