A arrancada na cotação do dólar frente ao real foi o elemento ‘surpresa’ para os produtores de Mato Grosso. A elevação da moeda norte-americana – que baliza todo o mercado mundial de commodities – fechou maio com valorização de 4,78% e tem previsão de chegar a R$ 2,20 nos próximos dias, segundo técnicos do Banco Central. A movimentação do câmbio chega como uma faca de dois gumes, afinal, pode influenciar positivamente sobre a soja que resta a ser comercializada, e, de forma negativa, encarecer os custo de produção do novo ciclo para àqueles que ainda não fecharam a compra dos insumos.

O dólar é o elemento surpresa de um período considerado bastante importante – e volátil – para a sojicultura mundial e em Mato Grosso, estado que produz a maior safra nacional de soja e que pelo segundo ano consecutivo lidera a produção brasileira de grãos e fibras, não é diferente. Desde o final da colheita da soja 2012/13, logo nas primeiras semanas de abril, o produtor já voltava sua atenção ao planejamento do novo ciclo, e deste então deu início às negociações para aquisição de insumos básicos – sementes, fertilizantes e defensivos – por meio da relação de troca ou venda futura.

Como explica o analista da Cadeia de Grãos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Ângelo Luís Ozelame, ainda não é possível diagnosticar se a alta do dólar pode retrair a intenção de plantio de soja no Estado e consequentemente alterar para baixo a projeção de expansão de 5,76% para área plantada. “Para o curto prazo, os produtores têm dois cenários quanto ao aumento do dólar. O primeiro é positivo, com o aumento nos preços da saca soja, aumento esse já percebido no Estado desde o final de maio. O segundo é negativo, devido aos custos com insumos que podem ficar maiores”.

Conforme levantamento o Imea, a nova safra de soja terá novos recordes, não apenas de área plantada e produção, mas também deverá consolidar o maior custo de produção já registrado no Estado. Considerando o último estudo do Instituto – base março – com um câmbio médio de R$ 1,98 o produtor desembolsaria em média cerca de R$ 2,29 mil para plantar um hectare (ha). Com a cotação do dólar da última sexta-feira, que fechou a semana valendo R$ 2,13, o investimento seria de quase R$ 2,5 mil/ha, para ambos os valores, a safra mais cara da série histórica mato-grossense está garantida. O desembolso global para se cobrir a estimativa de 8,34 milhões/ha – recorde absoluto – a safra 2013/14 custaria mais de R$ 20,8 bilhões.

PESO – Como explica Ozelame, grande parte dos produtores já comprou os insumos básicos. As negociações em maioria se deram, ou, à vista ou em sistemas de trocas com o dólar fixado, quando o valor negociado é entregue em dinheiro ou insumos aos produtores que o financiamento com parcelas da produção. “Esses produtores não devem ser afetados pelo aumento do dólar, mas a parte que ainda não comprou os insumos pode ser afetada e sentir o peso desta alta”.

O Imea está finalizando a análise sobre a movimentação pré-safra em Mato Grosso para avaliar o ritmo de compras de insumos e de vendas da produção no mercado futuro. Como antecipa o analista, há pouca movimentação até o momento. “A paradeira pode ser ou não interrompida. O fato é que a alta do dólar surgiu como um fator novo que gera expectativas e pode fazer o mercado andar em alguma direção”.

Atualmente, considerando o custo por hectare de R$ 2,29 mil, a saca da nova safra custa R$ 45 para ser produzida, considerando média de produtividade de 51 sacas, e hoje, no disponível se paga um valor muito próximo desse.

INFLUÊNCIA - O mercado da soja está mais volátil e nervoso do que o habitual para o período e isso está favorecendo o grão mato-grossense que acabou mais valorizado que na Bolsa de Chicago. O preço em Chicago, referência internacional para a commodity, nas últimas três semanas, no vencimento julho, teve uma valorização de 7,51%, enquanto no Estado foi a quase 10%. Essa valorização ocorreu devido à demanda pela soja nos Estados Unidos estar bastante aquecida e os estoques deste país estarem extremamente baixos e ainda como efeito da valorização do câmbio. Da produção de 23,58 milhões de toneladas da safra 2012/13, restam a comercializar no Estado 17%, ante cerca de 95% em igual período do ano passado. Essa soja ainda sem dono é que pode ser beneficiada com os novos preços, assim como, a soja do mercado futuro.

O peso sobre a demanda sofre influência do ‘mercado de clima’, período em que o mundo volta os olhos para o desenrolar do plantio nos Estados Unidos. Neste ano os trabalhos de semeadura são os mais lentos dos últimos cinco anos. “Com o dólar chegando a R$ 2,13, maior cotação desde o mesmo período do ano passado, a soja nacional se torna mais competitiva”.