Restando menos de 2% da área estimada para conclusão do plantio da soja, em Mato Grosso, foi confirmado o primeiro foco da ferrugem asiática nas lavouras. Nesse ano, em função do clima chuvoso – úmido e quente – a doença chegou bem mais cedo em relação ao ciclo anterior, quando a seca castigou as plantas e o primeiro foco só veio em meados de janeiro. O que chama à atenção, conforme o Ministério da Agricultura, em Mato Grosso, é que o caso detectado, e conforme as autoridades sob controle em União do Sul, norte mato-grossense, ‘quebrou’ a rotina da cultura e não eclodiu em tradicionais produtores como Primavera do Leste, Campo Novo do Parecis e Sapezal.
Na última semana, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), confirmou o surgimento da doença. De acordo com o comunicado, o primeiro foco da nova safra foi encontrado na variedade M 8372 IPRO, em estádio R5, que é a fase de enchimento de grãos. Na área, foram feitas duas aplicações preventivas de fungicidas, como explicou a 2ª vice-presidente Norte e coordenadora da comissão de Defesa Agrícola da Associação da Aprosoja/MT, Roseli Giachini.
A doença, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi é considerada uma das mais severas que incidem na cultura e pode ocorrer em qualquer estádio fenológico. Plantas infectadas apresentam desfolha precoce, comprometendo a formação e o enchimento de vagens, reduzindo o peso final dos grãos e demandando mais custos de combate e controle ao produtor. Nas diversas regiões geográficas onde a ferrugem asiática foi relatada em níveis epidêmicos, os danos variam de 10% a 90% da produção.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o auditor fiscal do Ministério da Agricultura (Mapa), em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, lembra que o foco da doença fúngica confirmado no Estado pode criar um problema sério se a região não realiza controle preventivo, o que é muito comum quando se trata de lavouras de soja precoce. No entanto, ele mesmo pontua que muitos produtores já possuem essa preocupação, dado os alertas feitos sistematicamente, ano-a-ano por ele mesmo em visitas a vários municípios produtores durante o período de Vazio Sanitário, quando a fiscalização federal sai a campo para cumprir a legislação que pede a ausência total de plantas vivas de soja, excluindo-se as áreas de pesquisa científica e de produção de semente genética, devidamente monitorada e controlada. “Os esporos se espalham com facilidade, podendo voar por mais de mil quilômetros e onde não há controle preventivo, o estrago é certo”.
Ele pontua ainda que nesse ciclo, 2016/17, a soja está sob influência climática possível de ferrugem. “É, então uma questão de procurar. É importante a detecção, mas também é importante realizar as aplicações preventivas e o manejo correto das plantas guaxas", recomenda Dias Guerra. O grande problema, segundo ele, é a qualidade da aplicação. "Sempre escapam algumas folhas. Dizem que quem procura acha justamente por conta das condições", aponta. Outros casos podem existir.
O representante do Mapa, em Mato Grosso, ressalta que no Estado, os primeiros focos em lavouras comerciais quase sempre são confirmados em regiões mais ao sul e no noroeste, como Primavera do Leste, Campo Novo do Parecis e Sapezal e que no norte mato-grossense, os focos costumam ser mais tardios em relação a essas localidades. “Nesses municípios que citei muitos produtores já identificaram a ferrugem na entressafra e fizeram maior controle”.
Outra característica da sojicultura mato-grossense em anos em que a chuva beneficia as lavouras, como está ocorrendo nesse ano, é um final de dezembro e um janeiro típico para a disseminação da doença, por conta da condição climática, tempo úmido e quente.
A confirmação da doença, em Mato Grosso, foi feita em laboratório pela doutora Solange Bonaldo, fitopatologista da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) do campus de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá).
“Além da atenção redobrada, é preciso usar fungicidas com diferentes modos de ação”, orienta Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja.
A ferrugem asiática foi descoberta em Mato Grosso na safra 2004/05 e nestes 11 anos, já causou prejuízo estimado de mais de US$ 30 bilhões no país.