A quebra histórica do ciclo passado – que levou dos Estados Unidos volume de grãos equivalente a mais de uma safra de soja brasileira inteira – não esfriou os ânimos dos produtores norte-americanos. Amparados por um sistema de seguro rural eficiente, eles saíram da crise capitalizados e determinados a investir pesado para colher uma safra recorde em 2013/14. Os planos eram ambiciosos: elevar o plantio de milho ao maior nível desde a Segunda Guerra. E, até a semana passada, pareciam bastante improváveis. Mas um novo relatório divulgado pelo USDA, o departamento de Agricultura do país, no final da tarde de ontem reascendeu as esperanças de uma safra de recuperação.
Depois de virar o mês com o menor índice de área plantada em quase 30 anos, os EUA chegaram à data considerada limite para a obtenção dos melhores resultados com mais de 70% das lavouras implementadas. Em um período de apenas sete dias, as plantadeiras varreram quase 17 milhões de hectares – 6 milhões de hectares a mais do que a extensão semeada ao longo das seis semanas anteriores. No início de maio, menos de 2 milhões de hectares haviam sido cultivados no país.
O plantio, que abriu o mês de maio em apenas 5% e alcançava 28% há sete dias, deu um salto de 43 pontos porcentuais e atingiu 71% nesta semana. O índice ainda corre atrás do registrado nesta mesma época de 2012 (95%), ano de plantio antecipado, mas fica muito próximo à média dos últimos cinco anos (79%). Historicamente, cerca de 15% do milho são semeados fora da janela ideal de plantio. Para evitar perda de potencial produtivo, o recomendado é que as sementes estejam no solo até, no máximo, 20 de maio. Neste ano, quase 30% da área serão cultivados após essa data.
“Nos últimos anos, produtores têm trocado suas plantadeiras de 8 linhas para máquinas de 16 ou até 24 linhas. É um grande poder de fogo que faz toda a diferença em situações de atraso como essa. A evolução do plantio nesta semana é prova disso”, pontua Mike North, analista do First Capitol Ag, consultoria norte-americana com sede em Wisconsin. Para dar conta dos 39,4 milhões de hectares que, segundo o USDA, são planejados para o milho na temporada 2013/14, os produtores ainda precisar semear 11,5 milhões de hectares – tarefa que, com a ajuda do clima, pode facilmente ser concluída na próxima semana.
Soja
Com todas as atenções voltadas para o milho, a soja ficou em segundo plano e registrou evolução bem mais modesta nos últimos dias. Até agora, 24% das lavouras foram semeadas – um avanço de 18 pontos porcentuais na comparação com a semana anterior que mantém os trabalhos atrasados tanto com relação ao ritmo do ano anterior (71%) quanto à média histórica (42%). No caso da oleaginosa, contudo, o atraso ainda não chega a causar preocupação. Cultivada um pouco depois que o cereal, a soja pode ser plantada até o fim de junho sem perda significativa do potencial produtivo. Até lá, 31,2 milhões de hectares devem ser implementados, segundo o USDA.
Mercado
Divulgado após o fechamento dos mercados, o relatório que mostrou avanço recorde nos trabalhos de plantio de milho não refletiu nas cotações do cereal, que terminaram a segunda-feira no azul na Bolsa de Chicago. Os contratos do cereal com, vencimento em dezembro de 2013, que sinalizam preços para a nova safra norte-americana, fechar o pregão valendo US$ 5,2025 por bushel (25,2 quilos), com leve alta de 0,75 ponto. A soja seguiu caminho inverso, com o novembro/13 trocando de mãos a US$ 12,25 o bushel (27,2 quilos), com queda de 3,25 pontos na comparação com o fechamento anterior.
A reação aos números deve vir hoje, mas tende a ser limitada. Há previsão de novas chuvas para o cinturão de produção de grãos dos EUA, o que deve diminuir o ritmo do plantio nesta semana. Em pontos isolados de Iowa, Illinois, Missouri e Nebraska as precipitações previstas para os próximos dias devem acumular mais de 120 milímetros. As chuvas virão acompanhadas de uma queda nos termômetros, que devem registrar marcar até 15°C abaixo do normal para esta época do ano.